terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Prenúncio de um fim inglorioso?...



“O Tumulto no Trâmite do Processo – Este é mais um ponto na conturbada relação entre os órgãos da mídia e os órgãos jurisdicionais. A pressão do chamado ‘Quarto Poder’ sobre o Poder Judiciário – na mente do julgador e, portanto, em sua convicção – distorce a noção acerca da função jurisdicional que constitucionalmente lhe incumbe. Ele passa a desejar, consciente ou inconscientemente, satisfazer a opinião pública (manipulada pelos órgãos de mídia) da qual se vê refém, ao passo que deveria se preocupar em distribuir a justiça através da prestação jurisdicional.” (Martins de Andrade, Fábio – MÍDI@ E PODER JUDICIÁRIO – EDITORA LUMEN JURIS, 2007).

A apoteótica retirada do pátio do DETRO de 200 motocicletas pôs o crime organizado do tráfico mais uma vez na dianteira da audácia e situou o RJ na rabeira da desmoralização. É, porém, fácil entender o fenômeno: hoje os subsistemas estatais são aleatórios devido ao indefectível loteamento político dos cargos e funções; por isso as instituições não interagem e distanciam-se do interesse público. Mas, autarquias arrecadadoras à parte, as investigações estatais, quando ocorrem, são virtuais; limitam-se, em esmagadora maioria, a grampear telefones de “suspeitos” e a dar crédito a falsos testemunhos contra alvos escolhidos mediante reprováveis idiossincrasias, bastando, para legitimar a suspeição, alguns floreios afirmativos da polícia ao MP, e do MP à Justiça (“Há muitas formas de afirmar e uma só de negar.” – M. de Assis in A Igreja do Diabo).

Depois desta fase conspiratória, basta aos diligentes acusadores estatais inferir precipitadas conclusões para derramar uma aluvião de falsas opiniões na espalhafatosa mídia, por via de denúncias vazias que chegam ao grande público até antes de judicialmente acolhidas, pondo por terra a presunção de inocência do alvo. Eis como funciona a pressão midiática se antecipando à “verdade dos fatos” adrede deformada nos autos. E a deformidade se torna então permanente, para azar dos atingidos pelos raios da injustiça, dando tempo e condições aos verdadeiros marginais da lei, tais como os que furtaram as 200 motocicletas, de se proliferarem como praga calamitosa...

Bom “método”, como nos tempos de Tomás de Torquemada!... Porque se tornam os acusadores – policiais, ministeriais e judiciais – ídolos da mídia, e torna-se a mídia ainda mais sensacional, enquanto suas algibeiras se enchem de dinheiro. E se torna o povo a mais e mais beócio, até que os bandidos, cansados de tantas facilidades no mundo real, saem do seu mundo paralelo (não mais submundo) e se projetam ao povo como os atores mais importantes da grande ópera bufa que reflete a única realidade social palpápel: o crime prospera num RJ falido e o resto é discurso enganador.

Sim, o RJ está falido, mas não seus atores (políticos e burocratas estatais) movidos como marionetes pela mídia, porque, deste modo, alcançam o sucesso, eternizam-se no poder e enricam tais como os midiáticos. E ao povo, anestesiado pelo sensacionalismo, e que de repente acorda em sacudida brusca, – como a do aumento do preço das passagens, – ao povo resta uma fraca e desordenada manifestação diante dum aparato estatal que logo acode os ricos empresários e vai conter os manifestantes em mobilização mais onerosa que o aumento das passagens. Mas é neste momento que a mídia atinge o ápice do heroísmo, porque finge defender o povo marretando a parte da polícia que não participa da mamata e serve de saco de pancadas de todos. Sim, saco de pancadas de todos que se submetem ao Quarto Poder representado pela mídia aliada aos acusadores, aqui anotado sem aspas para lhe dar mais autenticidade e o sentido de Único Poder...

Tudo perfeito! Que furtem as motos, a polícia virtual jamais se afetará! Permanecerá grampeando linhas telefônicas em Guardiões instalados em gabinetes refrigerados, e indiciando; e os ministeriais que os comandam, denunciando; e os atônitos ou maliciosos juízes atendendo aos falsos reclamos, e mandando prender; ou, quando não prendem, alegam que os acusados têm o direito de se defender durante o processo, e assim tudo é empurrado com a barriga ao futuro incerto.

Sem embargo, a legítima manifestação tenta até ser pacífica, mas surgem os mascarados de sempre jogando mais pimenta no vatapá estatal. Fazem assim recuar o movimento principal que fora às ruas digerindo em azia ulcerativa a passagem aumentada, mas que fica aumentada e fim!... Então a maioria do povo aflito retorna a pé ao subúrbio, enquanto alguns pés de chinelo, – remunerados para empunhar bandeiras de partidos que fingem apoiar o povo, mas votam com o governo abonador do aumento, – alguns pés de chinelo voltam de táxi com o troco no bolso garantindo a cerveja de um dia.





















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