quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Mais uma vítima da PMERJ



“PMs envolvidos na morte de Haíssa são denunciados pelo Ministério Público
MP pede a suspensão do exercício das funções públicas dos policiais e do direito ao porte de arma
Fonte do título: Jornal O Dia de 14/01/2015

Até quando o sistema de (in) segurança pública permanecerá blindado pela mídia interesseira?...

Alvíssaras ao MP!

Tenho denunciado reiteradas vezes neste blog a mais absurda ausência de conduta operacional na ponta da linha do policiamento executado pela PMERJ nos últimos tempos. Pior é que a situação perdura e parece não incomodar os gestores da segurança pública. Na verdade, cuidam eles de anunciar o aumento da quantidade de PMs, reavivando deste modo uma paranoia antiga, que se reporta à cultura massificada de tropa herdada do modelo militar semelhante ao do Exército Brasileiro, este que se mantém treinando conscritos e não se profissionaliza, a exemplo de diversos exércitos existentes no mundo, que já deram provas de que o modelo profissionalizado, aliado à tecnologia, não se compara ao da quantidade de corpos vivos destinados à morte coletiva.

A insistência na quantidade cria uma falsa impressão de segurança, embora seja cruel este modelo não apenas para o público destinatário dos serviços da corporação, mas também para os seus integrantes. Porque eles morrem às pencas e matam inocentes a toda hora, sempre, claro, com justificativas esdrúxulas, como a do caso em comento. E a PMERJ, que tem culpa no cartório porque não consegue profissionalizar suas volumosas fornadas, por razões óbvias, sai sempre pela tangente, quando pode, ou parte para o descarte de alguns desastrados e o assunto cai no esquecimento do povo, menos das famílias enlutadas, sejam de PMs ou das vítimas de causas idênticas, que se traduzem no despreparo geral da tropa nova e antiga.

Confesso que não sei o que é pior, se a falta de reciclagem permanente da tropa antiga ou a má formação dos novos, sendo certo que num determinado ponto do continuum a ineficiência estrutural atinge a todos. Deste modo, já está mais que vencida a hora de cobrar do andar de cima suas responsabilidades, pois não podem virar mero pó debaixo de tapetes os desastrosos resultados da ação operacional da PMERJ, que mata quem deveria defender até com risco de morte, ou morre por falta de treinamento compatível com o que irá executar nas ruas.

Ora, não há mais como cobrar responsabilidades administrativas e judiciais apenas de quem produz o mal resultado operacional. Isto é pouco e decorre porque a cultura massificada de tropa é assim: morrem as fileiras da frente, e alguns do meio ainda atingidos pelos inimigos, e avançam também para morrer as fileiras de uma retaguarda sempre guarnecida por mais efetivos. No fim de contas, o manancial humano é inesgotável, e a imobilidade social do jovem brasileiro garante a reposição imediata das lacunas, sejam decorrentes de ferimentos e mortes, ou de exclusões disciplinares, ou de punições judiciais inapeláveis.

Toda vez que ocorre desastre como o da jovem Haissa Vargas Motta, de 22 anos, sou obrigado a lembrar do igual desastre da jovem PM Fem Fabiana Aparecida de Souza, de 30 anos, lotada em UPP do Complexo do Alemão, morta friamente por traficantes em local supostamente pacificado. Claro que a culpa não foi dela, mas de quem a colocou em área de alto risco fingindo que estava tudo bem...

Ora, há muitas semelhanças entre os dois casos, e as responsabilidades não podem ser atribuídas às jovens precocemente mortas nem aos traficantes ou aos PMs que as assassinaram a tiros. Punir os assassinos é coisa demasiadamente óbvia, mas no caso da PMERJ, nem tanto assim: não se questionaram ou foram questionados em relação à morte estúpida da PM Fem Fabiana, pois, afinal, o andar de cima cansara de se ufanar que o complexo de favelas estava “conquistado e pacificado”; e não se questionarão quanto ao despreparo dos PMs que assassinaram a jovem Haissa, despreparo que transcende ao fato em si e remete a culpa aos gestores, sendo certo que não são somente os da PMERJ...

Que o MP tome também a iniciativa, para o bem da sociedade!

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