sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A efemeridade da vida





Às vezes me espanta ver a vida passar muito veloz diante e dentro de mim. A percepção temporal mais aguda é lateral (irmãos, primos etc.) ou abaixo de mim (filhos, sobrinhos etc.). E mais ainda abaixo emergem os netos comprovando que a temporalidade da vida não condiz com a eternidade do Universo, que, embora envelhecendo (ou não) na velocidade da luz, não nos transmite esta impressão, mas outra, inversa: a de que não envelhece jamais. A própria Terra parece indiferente às nossas angústias de nascer e morrer muito rápido. Na verdade, nosso planeta nos gera e absorve tal como faz com as plantas e os animais, sorte talvez dos minerais, que, mesmo com maior longevidade, se transformam para dar lugar a outras formas que retornam ou não à anterior, e vice-versa, num processo que se integra ao todo planetário e universal da matéria e da energia, embora exista a hipótese de que não existe matéria e que tudo é energia no Universo. Então, também somos energia e neste caso não morremos (?).

A crosta terrestre é alimentada pela morte que lhe dá vida. Plantas e animais são adubos, seres humanos (animais racionais) também servem à mesma finalidade de tornar feraz a Terra para que ela garanta o surgimento de novas vidas. Morte, vida, morte, vida, morte... Seria tudo um círculo virtuoso ou vicioso? Afinal, qual será a finalidade deste ir e vir numa constante que atende ao Cosmo eterno ou à vida efêmera das plantas e dos animais que se movimentam no exterior e no interior do planeta? Ou a ambos? Sim, qual será a finalidade deste ecossistema que talvez exista em outros planetas desta e de outras Galáxias? Mas se existe somente aqui, como crer ser único algo tão minúsculo e insignificante como a Terra no contexto universal? Por que então encenamos grandeza no meio desta ficção? Afinal, que será a realidade? Seria ela consequente dos enfeites, dos carrões, das mansões, das novelas e de outras regras de convivência que traçamos com a régua da fantasia? Como podemos separar fantasia de realidade num mundo em que nós, animais, supostamente pensantes, imaginamos o ideal em multivariados formatos fantasiosos?

Vamos avaliar os retratos, meio mais usual de reprodução do passado, mais que o efêmero espelho que nos dá a imagem imediata. Os retratos (dentre os quais incluo as novas mídias) são terrivelmente instrumentais a nos provar que toda fantasia é pouca para nos afastar da certeza do fim. Ao contrário, nos desperta para esta vida eterna da qual somos apenas efêmeros depositários. Mas nos imaginamos eternos enquanto lutamos contra o envelhecimento, pior é que vendo os jovens nos mangando sem a preocupação de que eles serão os próximos velhos. Sim, todos nós fantasiamos a vida eterna até o dia em que nosso corpo fenece ante a realidade de que ele veio (nasceu) para partir (morrer).

Pensemos então na alma, no espírito, na imaterialidade que se cogita conquistar por meio de religiões e crenças diversas. Adentremos a metafísica aristotélica a tentar desvelar o mistério do ser com suas causas e efeitos. Vamos então a Ovídio e seus Caos primordial, com as forças da Natureza regendo a Terra antes de nela existirmos como animais (evolucionismo) ou gentes (criacionismo). Ou alienígenas..

De um modo ou de outro, o fim de todos é o mesmo: servir de estrume ao florescimento de novas gerações que cumprirão o mesmo papel de garantir a ocupação de uma crosta terrestre fisicamente delimitada em seu tamanho e em seus recursos garantidores do círculo virtuoso ou vicioso da vida. Até então que a morte a interrompa para assegurar o rodar da roda gigante dum mundo sem cadeiras para todos, determinando por isso o embarque e o desembarque dos ricos e pobres, dos simplórios e vaidosos, dos racionais e irracionais, enfim, de todos que um dia serão igualados num pedaço de chão qualquer da crosta terrestre.

Nenhum comentário: