Às vezes me espanta ver a vida passar muito veloz diante e dentro de mim.
A percepção temporal mais aguda é lateral (irmãos, primos etc.) ou abaixo de mim
(filhos, sobrinhos etc.). E mais ainda abaixo emergem os netos comprovando que
a temporalidade da vida não condiz com a eternidade do Universo, que, embora
envelhecendo (ou não) na velocidade da luz, não nos transmite esta impressão,
mas outra, inversa: a de que não envelhece jamais. A própria Terra parece indiferente
às nossas angústias de nascer e morrer muito rápido. Na verdade, nosso planeta
nos gera e absorve tal como faz com as plantas e os animais, sorte talvez dos
minerais, que, mesmo com maior longevidade, se transformam para dar lugar a
outras formas que retornam ou não à anterior, e vice-versa, num processo que se
integra ao todo planetário e universal da matéria e da energia, embora exista a
hipótese de que não existe matéria e que tudo é energia no Universo. Então,
também somos energia e neste caso não morremos (?).
A crosta terrestre é alimentada pela morte que lhe dá vida. Plantas e
animais são adubos, seres humanos (animais racionais) também servem à mesma
finalidade de tornar feraz a Terra para que ela garanta o surgimento de novas vidas.
Morte, vida, morte, vida, morte... Seria tudo um círculo virtuoso ou vicioso?
Afinal, qual será a finalidade deste ir e vir numa constante que atende ao Cosmo
eterno ou à vida efêmera das plantas e dos animais que se movimentam no
exterior e no interior do planeta? Ou a ambos? Sim, qual será a finalidade deste
ecossistema que talvez exista em outros planetas desta e de outras Galáxias? Mas
se existe somente aqui, como crer ser único algo tão minúsculo e insignificante
como a Terra no contexto universal? Por que então encenamos grandeza no meio
desta ficção? Afinal, que será a realidade? Seria ela consequente dos enfeites,
dos carrões, das mansões, das novelas e de outras regras de convivência que
traçamos com a régua da fantasia? Como podemos separar fantasia de realidade
num mundo em que nós, animais, supostamente pensantes, imaginamos o ideal em
multivariados formatos fantasiosos?
Vamos avaliar os retratos, meio mais usual de reprodução do passado,
mais que o efêmero espelho que nos dá a imagem imediata. Os retratos (dentre os
quais incluo as novas mídias) são terrivelmente instrumentais a nos provar que toda
fantasia é pouca para nos afastar da certeza do fim. Ao contrário, nos desperta
para esta vida eterna da qual somos apenas efêmeros depositários. Mas nos
imaginamos eternos enquanto lutamos contra o envelhecimento, pior é que vendo
os jovens nos mangando sem a preocupação de que eles serão os próximos velhos.
Sim, todos nós fantasiamos a vida eterna até o dia em que nosso corpo fenece
ante a realidade de que ele veio (nasceu) para partir (morrer).
Pensemos então na alma, no espírito, na imaterialidade que se cogita
conquistar por meio de religiões e crenças diversas. Adentremos a metafísica
aristotélica a tentar desvelar o mistério do ser com suas causas e efeitos.
Vamos então a Ovídio e seus Caos primordial, com as forças da Natureza regendo
a Terra antes de nela existirmos como animais (evolucionismo) ou gentes
(criacionismo). Ou alienígenas..
De um modo ou de outro, o fim de todos é o mesmo: servir de estrume ao
florescimento de novas gerações que cumprirão o mesmo papel de garantir a
ocupação de uma crosta terrestre fisicamente delimitada em seu tamanho e em seus
recursos garantidores do círculo virtuoso ou vicioso da vida. Até então que a
morte a interrompa para assegurar o rodar da roda gigante dum mundo sem
cadeiras para todos, determinando por isso o embarque e o desembarque dos ricos
e pobres, dos simplórios e vaidosos, dos racionais e irracionais, enfim, de todos
que um dia serão igualados num pedaço de chão qualquer da crosta terrestre.
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