quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Será tudo fantasia?

Fonte: Jornal O GLOBO de 21fev2013
(Matéria assinada pelos jornalistas Antônio Werneck e Sérgio Ramalho)
Pequeno trecho da matéria em destaque

Fonte dos recortes: Jornal O GLOBO



Não há como reclamar da postura crítica do Jornal O GLOBO. Afinal, é o veículo de comunicação que mais incentivou e ainda incentiva a criação e a manutenção das UPPs. Mas a tendência é a da crítica neste momento em que já se observam claros sinais de entropia no sistema UPP. E aqui confesso não saber se a resposta da PMERJ anunciando aumento de efetivo na Mangueira resolverá o problema. No fim de contas, este é o principal mote da corporação toda vez que se vê pressionada diante de fracassos do policiamento em algum lugar, seja ou não favela. Aliás, nesse aspecto ela segue na mão de direção dos anseios imediatos de uma população impregnada da falsa ideia de que a quantidade resolve tudo. Este falso costume reflete a dura realidade de que se trata de círculo vicioso antigo: de um lado, a população reclama por mais policiamento; do outro, a PMERJ promete mais policiamento, e enquanto não forma mais uma turma sob o manto ilusório da quantidade em detrimento da qualidade dos homens e da tecnologia disponível, desloca o efetivo de algum lugar, que fica vazio ou rarefeito de policiamento, o que muitas vezes não se percebe de imediato. E assim a PMERJ ganha tempo e de algum jeito vai rodopiando naquele círculo vicioso do deslocamento de efetivos para lá e para cá. Só que, no caso das UPPs, e como o efetivo é concentrado, e rapidamente conhecido pelos favelados, diminuir efetivos já locados não será fácil à corporação, a chiadeira virá em tempo real, diferentemente de uma cidade em que a tropa está fracionada num terreno mais amplo. Por exemplo: agora que a PMERJ aumentou o efetivo da UPP-Mangueira de 120 para 320 almas, reverter esta decisão de ampliação do efetivo nem pensar.

A questão da quantidade, porém, está longe de ser solução de coisa alguma, é apenas uma engrenagem de um círculo que permanecerá vicioso e tendente à entropia em virtude principalmente da omissão dos demais organismos de segurança pública, em especial da Polícia Civil, autista em relação às UPPs desde o início, e, ao que parece, conta com o aval superior para se manter “fora de situação”, como se tudo não passasse de treinamento... Não digo que estejam sem razão... Pode a PCERJ estar certa de que o círculo vicioso entrará em irrupção entrópica tal e qual um vulcão a surpreender suas vítimas. Mas enquanto as UPPs existem e resistem, mesmo aos tropeços, o certo seria haver concomitantemente o exercício da atividade de polícia judiciária, de modo a desbarrancar traficantes por meio da investigação criminal singularizando-os com provas robustas. Isto, porém, não vem ocorrendo, a PCERJ, por meio das distritais, avança somente quando há crimes de sangue, por não haver como se omitir nesses casos extremos. Ou então procede a alguma busca e captura em contexto que não significa apoio às UPPs ou nem ocorre em locais pacificados.

O título de O GLOBO de hoje é mais contundente que a matéria. Resume tudo. Hoje, aliás, é possível diagnosticar a realidade das UPPs a partir do estudo de inúmeras notícias veiculadas pela mídia escrita, radiofônica e televisiva. O manancial garante desde já um importante diagnóstico de superfície e, em alguns casos, até de profundidade. Não mais adianta a PMERJ anunciar trocas de comando nas UPPs, não adianta sugerir a criação de novas estruturas, isto cheira a improviso, o que acaba por consagrar a ideia de que tudo tem sido improvisado desde o início e nada mais é a UPP que um falido Posto de Policiamento Comunitário (PPC) agora ampliado na base da conquista do terreno por tropas especiais e ajuntamento de PMs rodopiando pelas favelas segundo a mesma ótica (arrogante e inútil) de que essa presença inibirá a oportunidade de os delinquentes praticarem seus crimes, sem essa de “crime artesanal”, novidade que lançam como pérola aos porcos e que chega a aviltar quem já suou a camiseta combatendo drogas em favelas e sabe que o tráfico na ponta da linha é bastante organizado, possui contabilidade e demais ingredientes que assim o caracterizam. Apenas os traficantes, dentro da hierarquia da organização, usam de roupas simples (rotas) a peças de grife, sendo, porém, contundente prova, suas armas de guerra de última geração que chegam a rodo do exterior pelas fronteiras esburacadas dos países vizinhos, estes que fazem vista grossa...

A verdade é que não há diferença entre o crime praticado na favela e no asfalto. São interligados, e o que diferencia um dom outro é o fato de que as favelas servem bem ao propósito do tráfico no varejo por serem situadas no meio da riqueza. Demais disso, o desordenamento social favelado facilita sobremodo o homizio dos traficantes em todos os seus níveis hierárquicos (olheiros, aviões, vapores, soldados, gerentes e chefes), com poucas variações estruturais desde muito tempo. O tráfico tem ainda a vantagem de contar com a fácil reposição de sua mão de obra local: milhares de jovens sem qualquer chance de mobilidade social, algo, aliás, comum também à PMERJ, que conta com o mesmo contingente de rotos e esfarrapados para completar seus efetivos perdidos ou aumentá-los conforme a exigência do ambiente, que é multifacetado e não permite jamais a certeza de que o efetivo atual é suficiente para atender aos seus reais fins. Já o traficante não põe na sua estrutura ninguém além da real necessidade dos seus negócios, o que nos permite concluir que a estrutura do crime é mais organizada e real que a do sistema situacional, que, como sugere o título da matéria em destaque, é pura fantasia.

Um comentário:

Anônimo disse...

EH,EH,EH,EH,EH,EH.........

Belzeba