terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O rebolation dos PMs no programa da Regina Casé



O assunto em pauta é o rebolation dos PMs na TV Globo. As críticas explodem como bomba atômica no facebook e em outros mecanismos de comunicação. A veemência da indignação geral, algumas até insultuosas aos dançarinos, leva-me a refletir sobre o episódio sob uma ótica mais humana e compreensiva, de modo que não atirarei a primeira pedra em “ira acusadora”, pois reconheço que a “farda” do PM, como escreveu o poeta Salgado Maranhão, é antes de tudo um “fardo” difícil de carregar até na alegria...

Vejo no episódio, em princípio, uma natural euforia que levou os PMs ao inusitado rebolation. Sim, inusitado, porém nem tão transgressivo e menos ainda criminoso! E mais uma vez me ocorre que a reação que circula na internet restringe-se ao roto e ao esfarrapado, com PM criticando PM em autofagia espantosa. E desta forma indireta alguns intentam, na verdade, apedrejar o andar de cima que se fazia presente na pessoa do secretário Beltrame.

Ocorre-me, sim, que alguns críticos em falso moralismo devam ter saído providencialmente das trevas para tornar o tema objeto de uso político presente e futuro, assim desconsiderando o ser humano que vestia farda e dançava no programa da Regina Casé, ambiente musical ornado por nomes famosos do cancioneiro nacional. Oportunidade rara de palco para um simples PM se soltar em emoção. Estranho seria se houvesse reação exagerada de PMs em local de música erudita...

Ocorre-me ainda que aqueles PMs jamais pudessem imaginar igual chance em suas vidas esfarrapadas, vendo de perto tantas gentes famosas do mundo do samba e de outros ritmos populares. Ora, ele se viram enfiados num clima de alegria contagiante e se contagiaram. Com efeito, Regina Casé é contagiante, e o programa dela é alegre e divertido. Pelo menos foi o que percebi nas vezes em assisti ao “Esquenta”.

Não vi o rebolation nem me preocupei em vê-lo. Na verdade, vi a entrada das jovens faveladas para dançarem a valsa das debutantes com desenvoltos PMs que a acompanhavam, e gostei muito. Assisti apenas a entrevista do secretário Beltrame, e nela o que vi e ouvi em parte me agradou: ele criticou abertamente seus colegas secretários por deixarem a PMERJ sozinha nas ocupações de UPP; Intriga-me, porém, o porquê de ele, mandatário máximo da SSP, não ter posicionado permanentemente a PCERJ nas favelas com UPP para investigar e aprisionar bandidos e assim garantir a pacificação na sua totalidade. Portanto, a crítica do secretário Beltrame perde um pouco a legitimidade em razão da ausência da PCERJ a ele subordinada (não há uma UPP de policiais civis). Afora isto, ele foi impecável na crítica endereçada aos seus colegas secretários. Se ele é candidato a cargo eletivo, como por aí insinuam, não me interessa a mim por enquanto.

Mas pego carona no polêmico assunto para defender os PMs do rebolation arguindo o direito deles de rebolar pelo menos uma vez na vida diante da tevê, já que todos os PMs ativos e inativos rebolam para viver a dura realidade dos maus salários e das pressões disciplinares cujos limites costumam ser a vontade do superior acima do regulamento disciplinar e do estatuto, que prevêem deveres dos superiores em relação aos subordinados muitas vezes ignorados.

Não acuso especificamente ninguém, mas que a carapuça se encaixe na cabeça de quem quer que se ofenda ante a minha insinuação. Porque ela é verdadeira, e a subjetividade dos julgamentos disciplinares desde muito tempo tem sido a tônica da hierarquia e disciplina na PMERJ. O que me assusta agora é ver soldado fazendo coro com coronel na crítica ao rebolation dos colegas, como se o rebolation se tratasse de crime pior que extorsão e semelhantes. Nem vou falar da exposição em trajes mínimos de lindas PM Fem, oficiais e praças, algo que se integra à cultura do Carnaval, principalmente, tempo em que a tropa toda rebola, ou de fantasia, em alegria efêmera, ou de farda, neste último caso em escala tão apertadíssima que só rebolando mesmo de ira e tristeza...

Ora, será que a alegria dos PMs fardados (ou sem farda, já que lá também estavam e não estão sendo poupados) terá sido transgressão tão grave ou crime tão hediondo como alguns exageradamente projetam? Será que não há por trás disso alguma exploração política tendo como foco alguns PMs que se contagiaram com o clima festivo do programa? Será que é tão desumano um PM fardado externar excessiva alegria por estar num ambiente tão glamourizado? É proibido ao PM fardado dar de humano diante da sociedade? Quando fardado, ele deve demonstrar desumanidade? Deve ser alheio aos seus sentimentos e emoções? Deve sempre ser um poste?...

Bem, confesso que já vi PMs artistas se apresentando em palco do Canecão, muitos deles fardados, outros fantasiados de palhaço, mas todos proporcionando um estupendo show para uma platéia de mais de duas mil pessoas. Também em alguns festejos intramuros de quartéis, em coquetéis regados a bebidas alcoólicas, já vi PMs fardados cantando e dançando para deleite de superiores fardados e embriagados. Enfim, já vi de tudo e não me espanto com o que passou na tevê, não se trata de novidade a não ser pelo local, que, por sinal, era festivo. Bastante, aliás, e não poderia ser diferente, nem para os PMs...

Incômodo seria PM em rebolation num sepultamento de colega. Aí sim, ele mereceria a execração extrema. Rebolar na tevê, nas circunstâncias em que o fizeram, não me parece tão indigno ou abjeto. Há, sim, no mundo interno da corporação, muitas indignidades e injustiças praticadas em desfavor do subordinado, que, aí sim, tem de rebolar a mais e mais para não se ferrar ante as insanidades que contra eles são desferidas por seus infalíveis superiores. Isto sim, que é grave, e ninguém levanta a voz para denunciar.

Como disse, não vi o rebolation. Tiraram o link do ar. Mas, na verdade, não estou interessado em vê-lo, pois tantas são as descrições críticas que a imagem já em mim está introjetada, porém sem qualquer hostilidade a não ser a que virá contra mim, que corro na contramão da execração dos PMs praticantes do rebolation.

O “politicamente correto” seria abraçar o apupo geral como bandeira. Ah, não o farei a não ser para dizer que até na alegria a farda do PM há de ser um fardo... Ora!... Não vou julgar aqueles companheiros nem endossarei as iradas críticas contra eles disparadas. Prefiro crer que os PMs do rebolation são basicamente bons e não fundamentalmente maus só porque dançaram fardados num momento de alegria. E assim penso, e demais disso eu sei que há muitos críticos que decepariam o braço para vivenciar, no lugar de cada PM presente no programa da Regina Casé, um minuto de fama ou quiçá um segundinho...

É o que basta, respeitável público: a música acabou, as cortinas de mais este espetáculo de horrores estão cerradas, as luzes se apagaram e estou saindo de fininho antes das vaias a mim destinadas por entender que os PMs não fizeram nada demais, só entraram no clima também desejando ser felizes (“Eu só quero é ser feliz!...”), e muitos talvez tenham copiado de seus superiores embebedados os trejeitos dançantes que todos viram e reprovaram em preconceito gratuito e autofágico...

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