quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Duas opiniões para reflexão do rebanho


Ora bem, o mundo não acabou e os fatos seguem o seu curso como sempre indiferentes aos forçados dogmas, porém não às ideologias das quais se extraem decisões polêmicas e muito dinheiro a se depositarem nas algibeiras dos que já o possuem à larga. Porque das ideologias nascem os sensacionalismos como tesouros a serem descobertos ou inventados e depois vendidos independentemente de serem decorrentes de uma coisa ou outra. E a mente humana, atordoada, prefere não pensar e engole como moda os castigos-espetáculos hodiernos, com as gentes togadas e engravatadas, não necessariamente nesta ordem, ocupando o palco das ilusões a que chamam “justiça”. E os injustiçados que esperem a morte dos injustos para pagamento de suas contas após a morte (a danação), assim como deverão aguardar a própria morte para receberem o alento da salvação!...

E assim o mundo real segue o seu curso tal como a água do rio que não molhará os mesmos pés, ou seja, inexorável e determinista de um nada que se resume ao tudo que vemos e sentimos em delírio individual ou coletivo, tanto faz, a encenação da massa é alentadora nos grandes festejos do Réveillon e do Sambódromo. Enfim, o “espetáculo” entremeado por “castigos-espetáculos” heroificados por quem não almeja mais que lucro financeiro em todos os castigos e em todos os espetáculos, enquanto os seus “heróis” são bafejados pela fama construída sobre os escombros da desgraça alheia.

Todos, porém, cumprem com desenvoltura o seu papel no teatro da vida: em procissões pelas ruas católicas, em shows monumentais protestantes, em baforadas de fumo nas encruzilhadas, claro que tudo pago pelos participantes e assistentes que desses espetaculares eventos saem convictos da salvação de si próprios e da danação dos seus desafetos, que entregam ao divino e ao além-túmulo. E segue a realidade da vida tal como desce a cachoeira do penhasco a buscar nos seus escapes de montantes e jusantes as águas do mar, misturando-se águas doces e salgadas, o sal da vida intragável vencendo o doce imaginado da água pura, que não é doce coisa alguma a não ser que seja açucarada. Mas a ilusão a faz doce, embora seja ela, a água, incolor, sem cheiro ou sabor. Mas é essencial à vida. E a vida segue até a morte, unitariamente, mesmo que ocorrida em comoriência...

Para haver esta vida, porém, há de haver muita polêmica, muitas contradições, muitos paradoxos, muitas maldades e bondades, enfim, contrastes a alimentarem a raça humana, esta, que culmina sepultada sobre outras gerações, e assim sucessivamente caminhamos ao fim dos tempos e ao Juízo Final. Enquanto isso, vale mesmo é o juízo apressado do homem tornado burocrata, sábio e herói, posto de sua boca sair a verdade única a destruir ou construir o que ao fim e ao cabo terá de ser destruído para gerar uma nova vida ou um novo fato a escorrer pelos riachos sem jamais secar. Sim, secar é impossível! É preciso manter acesa a chama destruidora, esta que também aquece almas e corpos e os mantém vivos para procriar no prazer do sexo animalesco.

E cá estamos, nós, pobres terrenos e simples assistentes, – nas arquibancadas ou nas naves sagradas, – garantindo o aplauso e o apupo simultâneo ou intercalado, assim como estamos sempre prontos a chorar os mortos até que um dia sejamos nós os pranteados. Porque é assim, não existe punição em vida para os verdadeiramente merecedores dela, que muitas vezes são os que julgam e lavam as mãos certos de que não há nenhum Juízo Final a lhes esperar com a foice e o inferno, isto é pura ilusão, é transferência resignada dos que não são hábeis nem poderosos para se defender dos ataques de cima que os impelem ao chão da miséria e à cova do fim de sua desgraça pessoal e intransferível...

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