quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mudança de hábito


Pode soar estranha a troca de comando das 28 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que hoje concentram sete mil militares estaduais, como nos informa a matéria acima. No entanto, na PMERJ é normal que depois de um ano comandos sejam substituídos. Pode até parecer pouco tempo, mas quem é do ramo sabe o quanto é desgastante comandar a mesma unidade operacional por período maior. Também importa dizer que um comando jamais será igual a outro, as estruturas operacionais (quartéis) estão situadas em ambientes diversos e a tropa não é a mesma, o que implica interagir o novo comandante com pessoas diferentes em ambientes diferentes (internos e externos). Enfim, um novo comando operacional torna-se naturalmente um novo desafio. Por isso não seria salutar num corpo de tropa como o da PMERJ a inamovibilidade do comando de suas frações operacionais. A inamovibilidade é indispensável ao juiz, ao promotor e ao defensor para o exercício independente de suas importantes funções, mas absolutamente irracional em se tratando da atividade policial.

Conclui-se então que no exercício da função policial militar o rodízio é útil da cabeça aos pés, claro que com a cautela de adaptar as mudanças aos anseios e valores individuais da tropa, em especial dos graduados e praças, para não produzir insatisfações e revoltas em prejuízo da motivação. Mas a cautela não pode congelar o efetivo num só ambiente social; afinal, nem é preciso comentar sobre os vícios que se podem acumular em vista da exagerada interação de dois lados que deveriam ser integrados na teoria, mas que, na prática, se submetem à cultura do “jeitinho”, ficando a lei e os regulamentos muitas vezes a reboque de interesses inconfessáveis de ambos os lados. Claro que a integração comunitária calcada nos bons valores deve sempre ser o carro-chefe das relações entre a polícia e o público, de modo que os conflitos se deem apenas entre policiais atuantes e delinquentes contumazes. Mas a realidade prática costuma embolar esse ideal, tornando-o nebuloso. Trocar então é preciso, mesmo entre as frações, pois todos os ambientes são compostos de espaços menores e diferentes entre si. Portanto, o que não se deve, – ao se planejar e distribuir o policiamento, – é “fincar estacas” no chão e esquecê-las até apodrecerem...

No caso em comento, digo que o comandante que sai é oficial de elevado talante, assim como o que entra. Ambos são oficiais de escol, o que não significa que sejam iguais, são pessoas diferentes. Deduz-se, portanto, que a troca não foi de meia dúzia por seis. Muito ao contrário, o perfil do comandante que entra é emblemático e se ajusta à ideia que lancei aqui dias atrás sobre a presença do BOPE reprimindo o tráfico e se antecipando às UPPs, de modo a inibir o bandido e evitar a morte gratuita de mais PMs, estes que não podem e não devem adotar um ar belicoso durante o seu serviço, sob pena de o programa das UPPs afundar água abaixo.

O PM de UPP, a meu ver, deve ser prestador de serviços e usar a repressão somente em casos inadiáveis e inevitáveis. Creio, porém, que ele deva estar em condições de acionar imediatamente uma tropa de retaguarda para agir na repressão, quando necessária, poupando-o de críticas diretas da comunidade que dele depende para outras ações típicas de prevenção e de serviço policial comunitário – a regra. Que fique então a repressão – exceção – com outra fração de tropa, que não precisa ainda ser a do BOPE, mas uma força de retaguarda de batalhões próximos, porém treinada, escalada e comandada com a finalidade precípua de apoiar velozmente as UPPs com ações repressivas sem improviso. O BOPE seria então a terceira e última alternativa, sempre alcançando os bandidos de surpresa, de modo a prendê-los em flagrante, ou espantá-los e desarticulá-los. Se eles, os bandidos, são permanentes e insistentes, que a repressão contra eles seja igual ou maior!

Dito, desejo boa sorte ao comandante que sai para outras missões e ao que assume as UPPs como um novo desafio para si e para a PMERJ!

9 comentários:

Anônimo disse...

Mais uma vez Misoca, voce enrolou , enrolou e não d
isse nada. Senão vejamos, afinal, se o Seabrinha era excelente, por que saiu? ( e em plena operação panamenha, eh, eh, eh.../ viva Noriegggaaa) Se estava tudo certo porque o P. Henriquinho já chegou dizendo, que vai treinar a tropa no local, trocar os Comandantes, criar dezenas, centenas de Coordenadorias, etc. etc. etc. Misoca, Misoca, voce já foi mais esperto, o que está havendo ?

Belzeba

Emir Larangeira disse...
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Emir Larangeira disse...

Caro Belzeba Acho que suas férias no inferno derreteram alguns neurônios seus. Você voltou muito ácido!... Creio que bem tracei o perfil dos coronéis, o que chamamos internamente de "administrativo" e "operacional". No caso, ambos são bons no que fazem, mas um é uma coisa e outro é outra coisa. No primeiro momento, digamos que brando, da ocupação, os bandidos não retornaram matando PMs. Isto é mais recente, e eu mesmo já sugerira aqui ações pontuais do BOPE em favelas com UPP para evitar o reinício da entropia. Claro que a troca não desmerece o Seabra, que é importante intelectual, embora exalte o Paulo Henrique, que é comprovadamente operacional. Ambos têm mérito profissional, e a troca se fez necessária para que a presença do BOPE (emblemática) se tornasse latente na cuca podre dos traficas que retornam pé ante pé aos seus covis, algo normal e previsível da fera tornando ao covil. Quanto às Coordenadorias, realmente é um fato novo a ser apreciado na prática.

Emir Larangeira disse...

Continua...

Eu mesmo já sugerira num artigo anterior ações repressivas de retaguarda a partir dos batalhões da área onde estão instaladas UPPs. No fim de contas, falamos de uma Grande Unidade no conceito militar (sete mil homens, o que equivale ém média a dez UOps) a merecer estrutura intermediária, como sugere também a TGA ao comentar sobre os ambientes (tarefa, intermediário e geral). Portanto, vamos aguardar para ver como funcionarão. Ah, Belzeba, espere com a cabeça fria. Enfie-a numa geladeira e mude seu apodo para "Pinguim" por um tempo. Afinal, é Natal! Seja otimista!

Feliz Natal para você enquanto está fora do inferno!

Anônimo disse...

Caro Misoca, não sou pessimista e nem tampouco mensageiro do Anjo Mor( sou um demonio independente) apenas não gosto de sofistas,cascateiros, oportunistas, ingratos, infieis,traidores institucionais,falsos moralistas, etc,etc,etc,. Feliz natal para voce também, embora o chefe brasa/enxofre aqui fique atacado de depressão toda vez que o outro senhor do lado de lá faz aniversário.

Emir Larangeira disse...

Não sei se você não gosta de mim em vista de uma ou mais das depreciações por você grafadas; mas também não gosto de anônimos e nem por isso deixo de postar suas críticas. A verdade é que o mundo é imperfeito e as pessoas, tais como o mundo, são piores que o mundo e respondem pelas imperfeições. Por isso penso que toda vez que criticamos a imperfeição estamos nos criticando. Também não sei se o mundo deva ser feito somente de críticas depreciativas, eliminando-se o elogio ao outro por vergonha ou sentimentos menos nobres. (continua...)

Emir Larangeira disse...

(...) A verdade então é que, neste mundo de paradoxos e contradições, você e eu temos razão quando concordamos e quando discordamos. Mas ao fim e ao cabo não sabemos nada, apenas inspiramos e expiramos ar (quem sabe estamos aqui somente para cumprir esta finalidade, tal como a planta, e vivemos pensando que pensamos e sabemos tudo?) esperando a morte. Confesso que, como dizia Sócrates ("Eu sei que nada sei"), a cada dia menos sei até não ter como saber mais nada, ou seja, após esticar os canudinhos envelhecidos. Esta verdade última, por mais que sofismemos ou filosofemos, vale para nós dois...

Anônimo disse...

Caro Misoca, entendestes mal, quem disse que eu não gosto de voce, eu não gosto é deles.......

Emir Larangeira disse...

Melhor assim, caro Belzeba!