segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A polêmica continua I



Deveras inspirador, o artigo em comento é mais uma constatação de que algo está realmente fora de rumo no que chamamos Estado Democrático Brasileiro, cujo principal pressuposto, ou pilar, tem de ser necessariamente a vontade do povo por via de sua representatividade plural instalada no Poder Legislativo. Ocorre que essa tendência desmoralizadora da representatividade indireta por burocratas inatingíveis vem subvertendo os fundamentos filosóficos e históricos da democracia plena, conquista apenas aparente no sistema político pátrio.

A imprensa talvez cumpra o seu papel de apontar os dois lados da moeda, mas é fácil perceber a tendenciosidade editorial a favor dos inquisidores denunciados pelo articulista, ficando num plano incômodo os parlamentares, sempre severamente fiscalizados e, claro, mais atingidos por quem fiscaliza pondo-se acima do bem e do mal, como é o caso do Ministério Público (nacional e estadual) e do Poder Judiciário, este que se arvora detentor da última palavra, exatamente os poderes que não recebem a legitimidade popular nas urnas, mas são resultantes de concursos públicos que somente medem o mérito burocrático que se constitui no pilar da meritocracia. Sim, são os tecnocratas os donos da última palavra no país, ficando o Poder Executivo e o Poder Legislativo a reboque dos tecnocratas de plantão, donos da verdade última e da decisão em torno dela sem possibilidade de contestações. Enfim, isto não é democracia nem aqui nem na China...

O articulista, renomado cientista político, abre espaço na Revista ÉPOCA (do sistema GLOBO), contrapondo-se à tendência inversa do jornal O GLOBO, que nitidamente se põe em compadrio com os inquisidores hodiernos, estes que lembram os métodos de Tomás de Torquemada e seus torturadores. Não sei... Pode se assemelhar a isenção, mas para mim, e diante da frequência mais constante do compadrio entre inquisidores (acusadores e julgadores) inatingíveis com a mídia por eles descaradamente protegida, o espaço aberto ao cientista político não passa de jogo de aparências mesmo, malgrado a sua assertividade. Porque, incomum, e sempre atribuída a terceiros (renomados articulistas, porque senão não teria graça) as palavras contraditórias ao senso comum já instituído não passam de “beliscos indolores” se comparadas com as matérias e editoriais danosos ao Poder Legislativo, como se seus membros fossem adrede marginais.

Contudo, esse quadro de conflitos que emergem dos mandos e desmandos tem seu lado positivo. Pois é esperado que o Poder Legislativo contra-ataque, finalmente, pondo freios nos tecnocratas aos quais deram no passado poder em demasia por puro proselitismo político. Se não o fizer, claro que sofrendo contestações de minorias de parlamentares que representam os interesses midiáticos e tecnocráticos no parlamento, – e se dão bem nas urnas, – a maioria parlamentar amargará derrotas insuportáveis e humilhações como ocorre ultimamente: um poder agrilhoado pela Polícia, pelo Ministério Público e pelo Judiciário, com este não raramente acionado por aquelas minorias que se dizem opositoras ao atual regime político que ocupa o Poder Executivo. E são esses minoritários que de desdobram e se fazem numerosos em astuta generalização brilhante da imprensa, esta que faz a unidade parecer milhões, de tal modo que o povo já se esqueceu do Procurador de Justiça flagrado em promiscuidade com um bicheiro. Ninguém fala mais nele a não ser superficialmente. E assim a carruagem da meritocracia segue na dianteira de uma corrida que, se não atropelada pela verdadeira democracia, levará o país a uma ditadura que nada tem de militar: a apontada pelo cientista político Alberto Carlos de Almeida.

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