domingo, 18 de novembro de 2012

MEU TEMPO, MEU ESPAÇO, MINHA VIDA...

“Nossas possibilidades de conhecimento são muito e até, tragicamente, pequenas. Sabemos pouquíssimo, e aquilo que sabemos sabemo-lo muitas vezes superficialmente, sem grande certeza. A maior parte de nosso conhecimento somente é provável. Existem certezas absolutas, incondicionais, mas estas são raras.” (J. M. Bochenski – Diretrizes do Pensamento Filosófico – 1961) 

  
Sabemos hoje, por conta de Albert Einstein e sua teoria da relatividade, que não existem em separado o espaço e o tempo. Há, sim, uma entidade denominada “espaço-tempo” – cenário universal onde tudo acontece como algo de difícil compreensão ao leigo e quiçá ao sábio. Mas no nosso mundo microcósmico, nós, supostos seres pensantes, não conseguimos viver sem utilizar em separado a noção de espaço e tempo, inclusive medindo-os em aparente exatidão. Sabemos, sim, que o espaço nos é infinito na teoria e finito na prática. Miramos o horizonte distante dos céus e percebemos um espaço que não nos pertence e um tempo que jamais alcançaremos. Na prática, percorremos o nosso espaço ou nele nos estacionamos por um tempo que, – diferentemente do outro, cósmico, e vinculado intimamente ao espaço, – um tempo que escorre rapidamente. E não importa se estamos parados, ocupando um mínimo espaço tal como estaca fincada: o nosso tempo é indiferente e segue seu curso medido em horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, milênios, sendo certo que parte desse tempo é inalcançável, tal como é o espaço medido de nanossegundos a anos-luz. Sim, medimos com metro e relógio nosso espaço e nosso tempo, respectivamente, enquanto sentimos o corpo em franca e inevitável entropia, até que não temos mais noção de nada, a morte nos rouba simultaneamente o espaço e o tempo e desaparecemos no “espaço-tempo”... 

Somos efêmeros depositários dum universo que concebemos como eterno, embora saibamos que também ele se transforma dentro do “espaço-tempo”. Mas para nós essas mudanças não alteram nossa submissão ao determinismo restrito a nascer e morrer, não importando se façamos ou não algo dentro desse “espaço-tempo” limitadíssimo que ocupamos tal como uma estrela o ocupa em dimensões maiúsculas, ou como uma subpartícula atômica se situa em dimensões minúsculas. Na verdade, todos cumprem a mesma finalidade, que é a de existir (se é que pessoas ou coisas existem) e se transformar no cenário do “espaço-tempo”. E assim seguem as galáxias e todas as formas de matéria e energia (juntas ou separadas) contidas num universo que não sabemos finito ou infinito, tudo são teorias; se são comprováveis ou já comprovadas, isto não é tema para leigo como eu, embora eu tenha uma certeza, cheia de dúvidas, de que existo como leigo tanto quanto existe um sábio capaz de conhecer todas as leis da natureza que sabemos confirmadas por ele, leis que nos fazem viajar num avião encurtando o tempo dentro de um espaço maior que nossas pernas. 

Acontece que, indo ou voltando em velocidade, ou permanecendo parado, o nosso corpo se esvai no seu espaço e no seu tempo conforme os medimos; e temos sempre a impressão de que perdemos tempo dentro do espaço, ou o espaço dentro do tempo, por mais que sejamos ágeis. Enfim, somos prisioneiros de um determinismo espacial e temporal que não conseguimos enganar de nenhuma forma, porque todas as formas não passam de convenções às quais nos submetemos conformadamente enquanto o nosso tempo passa e nosso espaço espera para nos engolir como pó de estrela: na sepultura ou na cremação. Bem, assim eu estava pensando ao ter o carro travado por horas num congestionamento, no bairro do Fonseca, em Niterói, em dia e horário que não me permitiam vislumbrar a ocorrência desse corriqueiro fenômeno, porém comum em outros dias e horários. Somente depois de passada a angústia por me sentir aprisionado dentro do carro, – atrasando-se todo o meu planejamento de tempo e espaço, – é que cheguei à origem do crucial problema: um caminhão enguiçado no meio da estreita pista. Mas foi suficiente para me pôr a pensar na fragilidade da vontade humana diante dos imprevistos de espaço e tempo. Porque de nada me adiantava a minha vontade de percorrer o espaço dentro de um tempo por mim predeterminado em certeza inabalável... 

Esta incapacidade de vencer as adversidades de espaço e tempo nos torna reféns da ideia de que não somos livres mesmo sendo livres. Somos agrilhoados à nossa própria liberdade; pois a de locomoção, na medida em que nos é impedida por forças casuais ou premeditadas, torna-nos prisioneiros de nós mesmos. Sim, porque insistimos em vencer barreiras invencíveis, e nem sempre conseguimos contorná-las por falta dum mínimo espaço para manobrar nosso tempo noutro sentido desse próprio espaço alargado como mera ilusão. E culminamos derrotados e entregues à sorte de um mundo que intentamos absoluto em determinado momento, mas que se nos apresenta incerto e improvável. E, pasmos, vamos ficando nos semáforos demorados, nas filas imensas de bancos e de médicos, nos congestionamentos de carros e de gentes, nos apertos dos coletivos, todos nós, indistintamente, com o mesmo objetivo de usar o menor tempo para percorrer o máximo espaço. Ah, não nos pertencemos! Somos parte de um todo manipulado por um poder maior, natural e social, cujas casualidades e formalidades exterminam com nosso espaço e nosso tempo. E deles não mais temos e jamais teremos nenhum controle para viver livre e feliz...

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