sábado, 13 de outubro de 2012

Salve-se o planeta! Danem-se os satélites!



No O GLOBO de hoje, 13/10/2012 (matéria de Ana Claudia Costa), há o anúncio de conquista e ocupação de mais duas localidades emblemáticas: Complexo de Manguinhos e Favela do Jacarezinho. Ressalta-se o título focando os usuários de crack instalados na região: “A cracolândia resiste”. Também a matéria, com maior realismo que muitas anteriores, geralmente só ufanistas (para tanto ocultando o destino dos traficantes expulsos), desta vez informa as rotas de fuga: “De acordo com o serviço de inteligência das polícias, com a ocupação de Manguinhos e do Jacarezinho, o Parque União, na Maré, e as favelas do Lins de Vasconcelos vão se tornar refúgios dos traficantes da maior facção do Rio...” 

Claro que a maior facção do planeta Rio é o Comando Vermelho, e não apenas da capital, mas de todo o RJ. Portanto, o anúncio prévio de que os traficantes migrarão para as comunidades referidas pressupõe a imediata mudança de rumo dos foragidos, que não são bobos. Afinal, agora eles sabem que não devem se expor onde a polícia entende que estarão homiziados em emergência. Ou seja, os satélites que se preparem para receber os meteoritos que cairão depois do confronto entre o Bem e o Mal! 

Quem reside nos satélites, aqui representados por todos os municípios do RJ, sabe que desde muito tempo é refúgio traficantes alienígenas em vista das UPPs instaladas na capital. Mais grave ainda é saber que enquanto o número de marginais aumenta devido à migração, há outra migração, inversa e perversa, que diz respeito à PMERJ: grandes efetivos interioranos vêm sendo deslocados para suprir UPPs na capital. Não há como negar o fato, a PMERJ não possui onipresença nem é capaz de multiplicar PMs como “peixes bíblicos”. Daí a desgraça a assolar a mais e mais os satélites, eis que atingidos constantemente pelos meteoritos marginais. 

Caso à parte, a matéria em comento desafia o poder público ao priorizar a tragédia do crack no contexto da ocupação, Pois é na região a ser conquistada que se concentra um impressionante contingente de viciados, a maioria formada por menores. Eles resistem em se deslocar para outros cantos, sendo certo que a permanência deles sugere a existência do tráfico para atendê-los, uma coisa puxa a outra. Portanto, é fácil saber dos traficantes seguindo os passos dos usuários de crack. 

A questão que se nos apresenta tem cheiro de círculo vicioso... Aliás, desde a instalação das primeiras UPPs, que, sem embargo, cumprem essencial finalidade. E enquanto existirem e forem apoiadas lá estarão a proteger comunidades faveladas que tiveram a sorte de recebê-las, especialmente por se localizarem perto de quem tem a maior sorte: a elite. Azar então da população não alcançada por UPPs e que conta com efetivos mirrados de batalhões e companhias para atender ao aumento populacional e à inevitável migração de bandidos escorraçados pela polícia. E assim será hoje e sempre, com a PMERJ se esforçando para aumentar o efetivo e primando pelo rigor disciplinar em vista do seu controle, modo cruel de jorrar ex-PMs a serem acolhidos por milícias particulares e pelo tráfico. Enfim, um círculo vicioso...

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