segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sobre a realidade do crime e o calote governamental...





Antes de 1982, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro era comandada por oficiais do Exército Brasileiro, cada qual imprimindo na corporação o seu “toque pessoal”, a sua cultura de artilheiro, infante ou cavalariano, porém todos sem entender nadinha da atividade policial exercitada pela força auxiliar. Nada disso, porém, era problema, o poder hierárquico superava as dificuldades internas, enquanto o ambiente social acolhia uma criminalidade ainda invisível aos olhos do poder ditatorial. Também a secretaria de Segurança Pública era dirigida por generais e coronéis do Exército Brasileiro. Enfim uma segurança pública militarizada até no tocante à Polícia Civil. Aqui no RJ ainda se incluía no controle militar federal o Corpo de Bombeiros. Mas a partir da abertura política, naquele ano supracitado, tudo mudou... ou nada mudou... ou tudo piorou...
Na PMERJ, os comandos-gerais passaram a ser exercitados por seus próprios coronéis. Todos chegaram anunciando mudanças, “oxigenação”, melhorias etc., mas a corporação, por vontade dos governantes eleitos, desaguou em inércia no combate a um crime organizado que materializava aos olhos espantados da população o seu formato perigoso. A invisibilidade do crime deu lugar ao acirramento de suas ações ante uma polícia desacostumada a enfrentá-lo. Nos primeiros quatro anos (1983-1987) a omissão predominou e as polícias estaduais, – que vinham emperradas pela ditadura e sem cobranças do ambiente (a mídia era igualmente cerceada), – as polícias estaduais foram lançadas no vácuo de sua incompetência e do seu despreparo. O crime organizado agradecia e florescia impunemente, contando com o aval descarado dos políticos então alçados ao poder pelo voto direto das comunidades carentes dominadas pelo Comando Vermelho. Já denunciei em outro artigo como se deu o conluio do Comando Vermelho com esses políticos (vide na internet o texto completo do livro do jornalista Carlos Amorim: Comando Vermelho – a história secreta do crime organizado – Editora Record).
O período seguinte (1987-1991) foi de aleatória reação do governante e de sua despreparada e até então submissa polícia estadual ao “crime politizado”, que se expandira sobremodo nos quatro anos anteriores e se tornara descaradamente visível. Esta foi a fase de liberdade e de iniciativa da mídia em difundir a criminalidade crescente, não com interesse em contê-la, mas ideológica e vingativamente motivada a atacar a polícia e glamourizar os grandes chefes do tráfico, que se tornaram famosos e, claro, alvos preferenciais da atônita polícia. Enfim, um quadro situacional perfeito para as primeiras páginas dos jornais: de um lado, a polícia caçando os “famosos” traficantes; do outro, os “famosos” traficantes enfrentando a polícia, alguns indo às raias do heroísmo no seu sentido inverso, como se dera antes (1981) com “Zé Bigode” (vide fotos históricas na lateral deste blog e internet). Nesse período (1987-1991), a eficiência da polícia era medida pela vitória contra traficantes conhecidos e midiaticamente projetados até para fora do país. A medida do valor policial se resumia na prisão de algum líder do tráfico, ou então tudo resultava em fracasso, caso o traficante não fosse capturado. Vivi esse período de fama. Prendi um desses traficantes “famosos”: O Cy de Acari. E o que me parecia sorte e sucesso se transformaria em fracasso e tragédia pessoal, pois o brizolismo e seus prepostos, – aqueles do conluio denunciado por Carlos Amorim, – retornaram ao poder pelo voto das comunidades subjugadas (1991-1995).
Iniciou-se então um novo tempo de sucesso do crime e do fracasso de uma polícia descaradamente retaliada pelos mesmos dirigentes do conluio anterior. Perpetrou-se uma vingança sob a forma de oximoros, sofismas e outros ardis transformados em processos criminais contra os policiais (civis e militares) que combateram o banditismo no período imediatamente anterior. Assim funcionou a “gangorra” nesses doze anos, com oito deles a favor dos narcotraficantes, que, mediante tanta facilidade governamental, se transformaram em guerrilheiros urbanos.
Não há exagero na afirmação. No período de abril de 1989 a abril de 1990, eu comandei o nono batalhão da PMERJ, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 24 de novembro de 1989, uma guarnição do batalhão apreendeu na Favela de Acari um Fuzil AR-15 (versão civil do M-16 utilizado pelo exército norte-americano no Vietnã). Foi um espanto geral. Gerou mídia no mundo. Nos EUA, foi matéria do New York Times, passou na tevê em muitas cidades daquele país. No Brasil, a constatação de que os bandidos mudavam de tática e de armas. As escopetas, metralhadoras e demais armas curtas sairiam de moda a partir desta apreensão. E a novidade dos fuzis automáticos tornou-se corriqueira na paisagem carioca e fluminense: são milhares de traficantes portando essas armas de guerra, e não apenas fabricadas pela Colt norte-americana, mas por diversos países em volta do planeta. Não é o caso de se comentar sobre a facilidade com que essas armas abarrotam o mercado criminoso brasileiro...
Até 1995, a alternância da gangorra se manteve intacta e nitidamente vantajosa ao crime. Mas, daí em diante, as ações policiais foram sistemáticas e comandadas por um general do Exército Brasileiro que se encaixou como luva no discurso contrário à omissão. O que se viu como reação à inércia foi uma guerra sem quartel e sem controle, com a polícia se libertando das amarras anteriores e do seu medo daqueles políticos dos acordos inconfessos na Ilha Grande. Partiu-se para o combate ferrenho, mas como um “time de pelada”, alegoria que bem serve para definir o período dos confrontos aleatórios: as polícias estaduais não formavam um “time profissional”. Porque é certo que não se praticou nenhuma polícia científica ou organizada. O que se fez foi armar os policiais tais como os bandidos: fuzis contra fuzis. Igualdade de condições... Agora não havia mais essa de vantagem bélica para os bandidos, e os sangrentos confrontos se estenderam, assim como as tocaias terroristas a ceifar policiais (prática iniciada no período da omissão) aumentaram em quantidade. E até hoje muitos policiais são destroçados por tiros de fuzis sofisticados, bem como são muitos os bandidos cujos corpos dilacerados figuram em fotos sensacionais, todos como se atingidos por bomba. E incontáveis são os inocentes mortos por “balas perdidas”. Como disse recentemente uma alta autoridade da segurança pública: “Não se faz omelete sem quebrar ovos.” Mas a questão não está na “omelete”; os “ovos” são o grave problema, porque não se deve fazer “omelete” com “ovos alheios"...
Com umas pitadas de aleatoriedade e algumas “mentiras sinceras” no tempero da tal “omelete”, chega-se aos tempos de hoje, período de governo caracterizado por contradições insuperáveis. Por que, enquanto nos anteriores interregnos (no seu sentido literal) a balança alternava e até se buscou a adoção de uma política de segurança pública (1999-2003 e 2003-2007), de 2007 para cá se defende uma “política de confronto” baseada em maus-tratos da polícia pelo governante, ou seja, um “confronto” dele próprio com uma polícia que se sente lograda por compromissos e promessas que não se concretizaram e nem se irão concretizar, não há mais tempo de recompor na prática os discursos eloquentes de antes e de agora. A polícia está moralmente falida e somente é mantida em vista do seu modelo disciplinar hierárquico-piramidal e pela facilidade de se cortar cabeças e ganhar tempo. De todos os interregnos, só não se afirma ser este o pior porque os brizolistas foram imbatíveis.
A realidade é que o Estado do Rio de Janeiro ingressa no último ano do atual interregno político sem história pra contar, a não ser de desgraças e tragédias se abatendo sobre a família policial civil e militar e sobre a família dos soldados do fogo, podendo-se ainda acrescentar ao quadro trágico os agentes penitenciários e de trânsito, todos depauperados por conta da desatenção governamental elevada ao extremo do ódio contra essas sofridas categorias. Aliás, não seria demais a referência a todo o funcionalismo público, sublinhando-se os professores e os profissionais de saúde. Não se salva nada dessa tragédia funcional, pessoal e familiar conscientemente promovida por um governante que usou e abusou das “promessas” e dos “compromissos” durante a campanha, mandando inclusive gravá-los, para cobranças futuras. Vamos, pois, a elas... No caso da PMERJ e do CBMERJ, a sua palavra comprometedora foi registrada na Associação dos Oficiais Militares Estaduais (AME/RJ). Ah, verdadeiro “cheque sem fundos” emitido perante centenas de militares estaduais, um “borrachudo” por ele esticado faz três anos, e que no ano que vem arrebentará como o elástico de uma atiradeira que para nós ele aponta. Só que, como Deus é bom e justo, a pedra a nós destinada não lhe sairá das mãos, e a forquilha lhe escapulirá e se voltará contra o seu nariz, que crescerá, crescerá, crescerá...

6 comentários:

Wanderby disse...

Com "ovos alheios"...
Genial TC!

Emir Larangeira disse...

Obrigado. Sugestão acolhida e aspas alteradas.

Anônimo disse...

Nariz? mas que nariz é esse? Seria o nariz de PINÓQUIO??...Meu dignissimo amigo, acertar esse nariz de PINÓQUIO nao será tarefa difícil, pois o mesmo cresce a cada dia...rsrsrs.

Sou Maria Torres,
Leitora desse blog.

BOCA LIVRE disse...

Por Jotaantunes

Em dezembro de 2008 fui ao lançamento da CAMPANHA DA FRATERNIDADE para o ano de 2009 que está se acabando – O tema da campanha era: A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA – voltada para a Segurança Pública.

Estavam presentes bispos, párocos, leigos, representantes de todos os vicariatos, sociólogos, antropólogos, historiadores, “policiólogos”, jornalistas, etc.
Fiquei impressionado com o que li no texto base da CNBB.

A meu ver tudo ficou no papel e nas reuniões paroquiais por esse Brasil afora.
Com os últimos dados das pesquisas da violência o que posso verificar a retórica foi formidável, a prática na luta e admoestações da sociedade foram apagadas no dia-a-dia e corações e mentes, principalmente, nos familiares de centenas de vítimas da tétrica realidade no estado do Rio de Janeiro.

Parece-me que a igreja Católica Apostólica Romana perdeu o “último vagão do último trem” para uma mobilização de milhares de pessoas de todos os seguimentos da sociedade em busca da PAZ!!!

Ao menos a Igreja Católica Apostólica tentou! Só não houve mobilização.

A mais preocupante são as chamadas igrejas penteconstais. Estas são, indubitavelmente, as que mais crescem.

Em contrapartida os evangélicos do estado do Rio de Janeiro estão mudos: Segundo dados: Em dezembro de 2009 os evangélicos devem somar 49,8 milhões no Brasil, 25,4% de um total de 196,5 milhões de brasileiras e brasileiros. Ao persistir essa curva de crescimento, em 2020 os evangélicos serão 100 milhões no país.

Senão vejamos: o Rio de Janeiro já conta com 36,3% que se declaram evangélicos.
Não se faz necessário ser um “doutor” em estatísticas para ver que da Zona Oeste à Zona Norte, Subúrbios da Leopoldina e da Central do Brasil, bem como na baixada fluminense, a cada instante uma nova denominação se instala, sejam em galpões, antigos cinemas, casas etc.

Rede Record, Rede TV e CNT são emissoras que, além do horário matutino, as madrugadas são de curas, milagres e prodígios, além de satanizarem outras religiões.
São de um profissionalismo os cantores, os músicos e pregadores DITOS CRISTÃOS que usam das suas vozes para comercializar nas igrejas os seus dons e talentos, cobrando preços absurdos para louvar ou pregar. Fazem das igrejas palcos de shows e de apresentações.Tirando do Senhor a honra, glória e o louvor que somente é devido a Ele. Recordo-me a assertiva “QUE DE GRAÇA RECEBERAM” do próprio Jesus.

Senão vejamos: o Rio de Janeiro já conta com 36,3% que se declaram evangélicos.
Não se faz necessário ser um “doutor” em estatísticas para ver que da Zona Oeste à Zona Norte, Subúrbios da Leopoldina e da Central do Brasil, bem como na baixada fluminense, a cada instante uma nova denominação se instala, sejam em galpões, antigos cinemas, casas etc.

“Pessoas que fazem da música ou da pregação uma maneira de se enriquecerem alegando que ‘O OPERÁRIO É DIGNO DO SEU SALÁRIO”. HOJE OS CULTOS VIRARAM SHOWS, OS LOUVORES, APRESENTAÇÕES E A PREGAÇÃO DA PALAVRA UMA FONTE DE RENDA. “
PASTOREAI O REBANHO DE DEUS QUE HÁ ENTRE VÓS, NÃO POR CONSTRANGIMENTO, MAS ESPONTANEAMENTE, COMO DEUS QUER; NÃO POR SÓRDIDA GANÂNCIA, MAS DE BOA VONTADE; 2 PEDRO 5.2

Vejo na figura do Senhor Reverendo o líder do movimento Rio de Paz, Antonio Carlos Costa. O único líder que toma a iniciativa quase que diuturnamente em prol das vítimas da violência que estão estampadas diariamente.

Porque os “PREGADORES DA TV” não usam um pouco do seu tempo para promoverem uma cruzada de luta pacífica no Estado do Rio de Janeiro, conclamando o POVO em uma vigília pela paz???

Ou as grandes preocupações são de venderem CDs, livros e pedirem ajuda para a manutenção dos seus programas diários e noturnos?

Fico eu aqui pensando que: “Templo é dinheiro”!!!

Que respondam nossas consciências!!

Disse Deus: “Não destruirei a cidade, se achar nela quarenta e cinco justos”. Livro do Gênesis

BOCA LIVRE disse...

Por Jotaantunes

Em dezembro de 2008 fui ao lançamento da CAMPANHA DA FRATERNIDADE para o ano de 2009 que está se acabando – O tema da campanha era: A PAZ É FRUTO DA JUSTIÇA – voltada para a Segurança Pública.

Estavam presentes bispos, párocos, leigos, representantes de todos os vicariatos, sociólogos, antropólogos, historiadores, “policiólogos”, jornalistas, etc.
Fiquei impressionado com o que li no texto base da CNBB.

A meu ver tudo ficou no papel e nas reuniões paroquiais por esse Brasil afora.
Com os últimos dados das pesquisas da violência o que posso verificar a retórica foi formidável, a prática na luta e admoestações da sociedade foram apagadas no dia-a-dia e corações e mentes, principalmente, nos familiares de centenas de vítimas da tétrica realidade no estado do Rio de Janeiro.

Parece-me que a igreja Católica Apostólica Romana perdeu o “último vagão do último trem” para uma mobilização de milhares de pessoas de todos os seguimentos da sociedade em busca da PAZ!!!

Ao menos a Igreja Católica Apostólica tentou! Só não houve mobilização.

A mais preocupante são as chamadas igrejas penteconstais. Estas são, indubitavelmente, as que mais crescem.

Em contrapartida os evangélicos do estado do Rio de Janeiro estão mudos: Segundo dados: Em dezembro de 2009 os evangélicos devem somar 49,8 milhões no Brasil, 25,4% de um total de 196,5 milhões de brasileiras e brasileiros. Ao persistir essa curva de crescimento, em 2020 os evangélicos serão 100 milhões no país.

Senão vejamos: o Rio de Janeiro já conta com 36,3% que se declaram evangélicos.
Não se faz necessário ser um “doutor” em estatísticas para ver que da Zona Oeste à Zona Norte, Subúrbios da Leopoldina e da Central do Brasil, bem como na baixada fluminense, a cada instante uma nova denominação se instala, sejam em galpões, antigos cinemas, casas etc.

Rede Record, Rede TV e CNT são emissoras que, além do horário matutino, as madrugadas são de curas, milagres e prodígios, além de satanizarem outras religiões.
São de um profissionalismo os cantores, os músicos e pregadores DITOS CRISTÃOS que usam das suas vozes para comercializar nas igrejas os seus dons e talentos, cobrando preços absurdos para louvar ou pregar. Fazem das igrejas palcos de shows e de apresentações.Tirando do Senhor a honra, glória e o louvor que somente é devido a Ele. Recordo-me a assertiva “QUE DE GRAÇA RECEBERAM” do próprio Jesus.

Senão vejamos: o Rio de Janeiro já conta com 36,3% que se declaram evangélicos.
Não se faz necessário ser um “doutor” em estatísticas para ver que da Zona Oeste à Zona Norte, Subúrbios da Leopoldina e da Central do Brasil, bem como na baixada fluminense, a cada instante uma nova denominação se instala, sejam em galpões, antigos cinemas, casas etc.

“Pessoas que fazem da música ou da pregação uma maneira de se enriquecerem alegando que ‘O OPERÁRIO É DIGNO DO SEU SALÁRIO”. HOJE OS CULTOS VIRARAM SHOWS, OS LOUVORES, APRESENTAÇÕES E A PREGAÇÃO DA PALAVRA UMA FONTE DE RENDA. “
PASTOREAI O REBANHO DE DEUS QUE HÁ ENTRE VÓS, NÃO POR CONSTRANGIMENTO, MAS ESPONTANEAMENTE, COMO DEUS QUER; NÃO POR SÓRDIDA GANÂNCIA, MAS DE BOA VONTADE; 2 PEDRO 5.2

Vejo na figura do Senhor Reverendo o líder do movimento Rio de Paz, Antonio Carlos Costa. O único líder que toma a iniciativa quase que diuturnamente em prol das vítimas da violência que estão estampadas diariamente.

Porque os “PREGADORES DA TV” não usam um pouco do seu tempo para promoverem uma cruzada de luta pacífica no Estado do Rio de Janeiro, conclamando o POVO em uma vigília pela paz???

Ou as grandes preocupações são de venderem CDs, livros e pedirem ajuda para a manutenção dos seus programas diários e noturnos?

Fico eu aqui pensando que: “Templo é dinheiro”!!!

Que respondam nossas consciências!!

Disse Deus: “Não destruirei a cidade, se achar nela quarenta e cinco justos”. Livro do Gênesis

Anônimo disse...

Emir

O nariz já cresceu, mais Pinóquio só vai voltar a existir nas histórias em quadrinhos. O tempo é nosso maior aliado!

abraço

Carlos Otavio Vaz